Cresci em meio à construção, já ruína

Da esquerda para a direita, JPrettin e Dudu Silva. Em Linha do Tiro, Recife, Pernambuco, no dia 30 de janeiro de 2023. Foto: Nanda Maia

Foi imediato o vínculo que fiz do meu histórico de vida com os versos “Aqui tudo parece / Que era ainda construção / E já é ruína”, quando ouvi a canção “Fora da ordem” (1991), de Caetano Veloso. Cresci em meio à construção. Aqui nunca se para de construir, e já é tudo ruína. Um projeto colonial pouco criativo, no qual a mesma lógica é aplicada invariavelmente ao espaço ou tempo, pois é uma maneira de pensar ou de enxergar a existência. Desde criança, vejo o mesmo padrão da estética do inacabamento para parecer que se está construindo algo, ou seja, que se está fazendo alguma coisa, quando, em realidade, é só uma performance do pensamento destrutivo pela estética do fazer infinito, expressão da ruína que expõe o ego colonizador de seus representantes. Derruba-se tudo para construir algo novo, mas o grande dia, o dia D, nunca chega, nem chegará: nada se constrói, verdadeiramente. Já que o pensamento não é capaz de sair do ideal de um futuro melhor (hierarquização dos sentimentos via a triangulação), do discurso da premonição de uma realização, de que um dia o prometido chegará: um projeto messiânico. O pensar colonial aporta aqui junto com o cristianismo para implantar em nossas mentes, via a evangelização, um ideal de progresso que mata prometendo ressuscitar; derruba prometendo levantar; desmata prometendo replantar; explora prometendo recompensar; extravia prometendo recuperar.

Quantas promessas você já fez, hoje?

Na foto, da esquerda para a direita, JPrettin e Dudu Silva. Em Linha do Tiro, Recife, Pernambuco, no dia 30 de janeiro de 2023.

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