Comentei com uma amiga sobre minha percepção a respeito da vulnerabilidade: o que é vulnerabilidade para um pode não ser para outro. Complemento: a vulnerabilidade ou a potência são duas faces de uma mesma moeda. Assumem seus papéis com permeabilidade, conforme a situação, espaço ou pessoa.
Quando reconheço uma vulnerabilidade em mim, evito negá-la, assumo-a. Logo a encaro, me desafio: este é o meu processo de cura.
É assim que transformo minhas vulnerabilidades em potências: quando expor uma vulnerabilidade minha para mim ou para alguém deixa de ser um medo e passa ser um processo de (auto)(re)conhecimento.
Com isso, aprendo sobre meus limites. Logo, me permito me conectar comigo mesma.
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“Estranho”, foi o comentário que ouvi da primeira terapeuta; acho que eu explicava como a minha mente funcionava: em caixinhas. Acredito que esta comparação serviu para demonstrar como eu separava a relação profissional da amorosa, na época.
O “estranho” foi o primeiro passo de percepção disso, pois, hoje, sei que era mais um recurso de sobrevivência diante da longa e intensa desconexão e falta de pertencimento nos espaços e pessoas os quais convivi. A imagem das caixinhas foi a forma sensível de expressar as desconexões (psicológicas, químicas e físicas) que eu vivenciava.
As caixinhas são minha potência, mas também, minha vulnerabilidade, a depender da situação ou momento. Quando toco um instrumento ou danço, por exemplo, fazer novos ligamentos entre as partes sempre me causa muita confusão, logo, me desperta inseguranças. É quando devo respeitar, mas encarar os impactos acarretados pelo meu histórico familiar e amoroso.
Por isso, cada dia da minha existência tento (re)construir alguma conexão perdida ou nunca estimulada dentro de mim, que nada mais é que a minha sensibilidade, o meu sentir, meus vínculos.
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A surpresa é imediata quando revelo que só comecei a tocar pandeiro, dançar, fazer essas coisas todas com o corpo e o movimentar pelos lugares apenas em 2019. “É como se já fizesse há muito tempo”
“Eu não fazia nada disso. Muita coisa eu ficava só imaginando.” Ou sempre esbarrava em algo que não conseguia identificar. Mas tenho convicção sobre as minhas potências, mesmo nas fases de extrema vulnerabilidade.
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Na minha pesquisa sobre o livro-corpo (meu projeto de tese por ora abandonado) descobri um conceito que fala da imagem como sendo o sensível, este que se formaria no corpo intermediário: isto é, pelas conexões que estabelecemos para construir os significados das coisas para nós.
Por isso, assumir meu corpo intermediário, este que transita pelos espaços com permeabilidade, é uma das minhas maiores potências.
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Ser sensível para consigo mesme é uma expressão de amor.
Este texto é uma contextualização do poema Desamor.
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